Da Coluna do Sarney
Estamos no limbo, entre a Copa e a política. A política com toda a força que tem nos noticiários e na cabeça das pessoas e a Copa chegando com todo gás, controvertida. Só que desta vez a controvérsia não é sobre a escalação do time que certa vez levou um presidente da República, Médici, a derrubar um técnico da Seleção, João Saldanha, porque não escalou um jogador de sua preferência. O que não faltava ao Maracanã de radiozinho de pilha no ouvido. Agora é mais complexa a controvérsia, mais séria, mais filosófica, envolvendo matérias como finanças públicas, segurança, déficits orçamentários e sua disputa com educação, saúde e compra de petróleo mais barato, enfim, se devíamos ou não ter aceito e disputado trazer a Copa para o Brasil. E aí a política se divide com paixão: a oposição diz que não, o governo diz que sim.
Enquanto eles se engalfinham nessa luta, Felipão entra no vácuo e escolhe os atletas com apoio quase unânime da população. Não digo unânime, porque eu sou discordante. Não tem um jogador do Flamengo nos escolhidos, o que é mau presságio. Nunca tivemos uma Copa sem um jogador do Flamengo e isso atrai fluídos maléficos. Não dá sorte. Em caso de dúvida consulte-se os terreiros da Bahia.
Não quero botar culpa no Felipão, porque é uma figura muito simpática, tem jeito de brasileiro, misto de baiano, português, gaúcho e com uma escondida malandragem das rodas de samba dos morros cariocas. Ele adotou e tornou pública a tendência de que velho é traste, é melhor ter “jovens com mais ambição” do que velhos que tem a memória de “esse filme eu já vi”. Sua filosofia é uma seleção como se fosse uma família, sem velhos, com uma única exceção: ele próprio, que não é da escolinha do Santos e já participou de tantas copas que até perdeu o número.
Por outro lado, a onda é renovar. Mudar nem que seja “do bom para o mau e do mau para o pior”, como alertava outro velho sabido e sábio, Rui Barbosa, que jogava em todas as posições. Mas a Seleção está boa, com um jeito que pode receber a saudação do meu saudoso e querido amigo Miguel Gustavo, autor indelével do famoso hino “70 milhões em ação/ … SALVE A SELEÇÃO!” Eu “boto fé”, como diz o nosso papa Francisco, que também é do time da bola, no Hulk e no Bernard – já que o Neymar é pule de 10 – eles vão balançar muitas redes.
Outra característica das escolhas é que Felipão escalou um pessoal que nunca participou de Copa do Mundo, mas mostrou ter a grande experiência da Copa das Confederações, quando teve um sucesso grande e saiu campeão.
Outra coisa que devemos entender também são os “novos tempos”. Com a internet, se o Neymar perder um pênalti ou Victor deixar passar uma bola entre as pernas, basta um blogueiro, em um minuto, dizer que ele sofre de beribéri e ele tá lascado. Acabaram-se as utopias e os heróis. Agora é o valor do “passe”. Quanto mais alto, melhor o jogador. Por isso Felipão nunca confessou o seu “passe” e eu desejo é que ele não passe nunca. Ele sabe como ninguém dar uma boa risada num gol e colocar as duas mãos no rosto na hora de tomar um frango.
Mas não resisto a contar um caso ocorrido com embaixador meu amigo, que voltando do exterior, pegou um táxi e quis logo saber das notícias através do taxista. Ele lhe explicou: “As coisas não estão boas. O Neymar não está em boa fase. Os argentinos estão todos prosa, Pelé colocou uma prótese no quadril, ainda para piorar os argentinos tem o Messi. E agora têm até o papa, o Francisco”. O embaixador contestou: “Mas o papa é muito bom, caridoso, simples, humano. Gente muito boa”. O chofer respondeu: “É, doutor, até que as coisas podiam ser pior. Calcule se fosse um papa paulista!…” Ainda bem que Felipão é gaúcho… problema do Felipão é que para ele não tem segundo turno.
fonte http://gilbertoleda.com.br/
Leave a Reply