O ex-presidente do banco foi preso na 42ª etapa da Operação Lava-Jato,
batizada de Operação Cobra, por ordem do juiz Sérgio Moro.
Os publicitários André Gustavo e Antonio Carlos Vieira da Silva foram levados para exame ontem em Curitiba
Residência que serviu de base para as negociações de propina entre o grupo comandado por Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, é avaliada em R$ 6 milhões. Caso veio à tona com a delação do empreiteiro Marcelo Odebrecht.
Uma casa avaliada em 6 milhões, no bairro mais nobre de Brasília, serviu de ponto de encontro para traçar todos os planos do grupo comandado pelo ex-presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine, no escândalo que envolve a empresa Odebrecht. A residência, de propriedade do publicitário André Gustavo Vieira da Silva, está localizada em uma esquina da QI 03, no Lago Sul, e foi usada para reuniões entre Bendine e o presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, para negociar o pagamento de propina.
O ex-presidente do banco foi preso na 42ª etapa da Operação Lava-Jato, batizada de Operação Cobra, por ordem do juiz Sérgio Moro. É acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. No pedido de prisão de Bendine, o Ministério Público descreve os passos do executivo para usar sua influência no cargo público como moeda de troca nas conversas em busca de dinheiro. A residência de André Gustavo funcionou como uma espécie de quartel-general do esquema. Lá, Bendine se reuniu com Marcelo, então presidente da empreiteira que está no centro das denúncias.
Os primeiros encontros ocorreram em junho de 2014 e o ex-presidente do Banco do Brasil pediu para a Odebrecht R$ 17 milhões. Em troca, ele permitiria a rolagem de dívida de um financiamento da Odebrecht AgroIndustrial no Banco do Brasil. Marcelo negou esse pedido meses depois, ao entender que Bendine não tinha poder de influência sobre os financiamentos da instituição bancária.
De acordo com a denúncia apresentada ao juiz Moro, ocorreram encontros presenciais na residência e ainda no prédio da sede do Banco do Brasil, em São Paulo. O local usado para reuniões é o mesmo prédio onde está localizado o escritório da Presidência da República, na Avenida Paulista. Os endereços e as datas dos encontros foram encontrados no e-mail de Marcelo Odebrecht e em documentos localizados no departamento de pagamento de propina da empreiteira. Odebrecht chamava Bendine pelo apelido de “Dida”. Já nas planilhas de propina, o gestor era chamado de “Cobra”, nome que batizou a operação que levou à sua prisão.
Na capital paulista, o executivo Fernando Reis, da Odebrecht, também participava dos encontros em que se negociava o repasse do dinheiro ilegal. Reis foi quem agendou os primeiros encontros com o publicitário André Gustavo, que resultaram nas reuniões presenciais que negociavam a propina. A Odebrecth tinha longas dívidas com a instituição bancária e por isso se interessou pelos encontros marcados em nome do presidente do BB. A dívida que Odebrecth pretendia negociar era de R$ 1,7 bilhão. A empreiteira tinha a intenção de postergar dívidas que venceriam entre 2015 e 2017.
O publicitário André Gustavo foi detido no aeroporto internacional do Recife. De acordo com o advogado Ademar Rigueira, que defende André, o empresário estava indo para sua residência, na capital federal, e a “prisão não se justifica e foi um ato precipitado”. A defesa de Aldemir Bendine apresentou extratos do cartão de crédito dele, com parcelas relacionadas à compra de passagens de ida e volta de Portugal. A prisão foi solicitada por conta do temor de uma fuga, para escapar de uma possível condenação. De acordo com os advogados, as passagens provam que “a prisão temporária solicitada pela Justiça é infundada”, pois seu cliente já tinha data de retorno ao país.
De acordo com a denúncia, os encontros presenciais e negociações de propina continuaram após Bendine assumir a presidência da Petrobras, em 2015. Ele entrou na companhia no lugar de Maria das Graças Foster, que renunciou em meio ao andamento da Operação Lava-Jato. A Polícia Federal informou que os depoimentos de Bendine, de Vieira da Silva e dos demais presos na Operação Cobra estão agendados para segunda-feira, na superintendência da corporação, em Curitiba.
PSB no foco da apuração
Por PAULO DE TARSO LYRA
A prisão do publicitário André Gustavo Vieira, apontado como um dos operadores do esquema de cobrança de propinas do ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, Aldemir Bendine, pode jogar no centro das investigações o PSB de Pernambuco. Isso porque Vieira, dono da Arcos Propaganda, também é apontado em algumas investigações como operador do senador Fernando Bezerra Coelho (PE). Segundo depoimentos prestados à Lava-Jato por delatores da JBS e da Odebrecht — que também aparece na Operação Cobra —, o publicitário também trabalharia intermediando recursos para o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e o prefeito do Recife, Geraldo Júlio.
O trio do PSB de Pernambuco foi apontado como beneficiário de propina pelo ex-diretor da JBS, Ricardo Saud. O acerto inicial seria uma contribuição de R$ 15 milhões para a campanha presidencial de Eduardo Campos. Após o acidente que matou o candidato socialista, Paulo Câmara e Geraldo Julio teriam pedido para que os recursos fossem repassados para a campanha do primeiro ao governo estadual. No caso do senador Fernando Bezerra Coelho, a propina seria de R$ 1 milhão.
A defesa do senador Fernando Bezerra Coelho, representada pelo advogado André Luis Callegari, refuta com veemência as “inverídicas” afirmações feitas por Ricardo Saud. “A defesa do senador reforça que todas as doações feitas à campanha dele cumpriram rigorosamente a legislação e que todas as contas foram devidamente apresentadas e aprovadas pela Justiça Eleitoral. O senador sempre trabalhou, única e exclusivamente, pelo desenvolvimento do país e do estado de Pernambuco e está à disposição para esclarecer quaisquer questões no devido momento processual”, afirma a nota divulgada pela assessoria de Fernando Bezerra.
O governador de Pernambuco afirmou repudiar a exploração política do depoimento. “Não recebi doação da JBS de nenhuma forma. Nunca solicitei e nem recebi recursos de qualquer empresa em troca de favores. Tenho uma vida dedicada ao serviço público. Sou um homem de classe média, que vivo do meu salário.” Ele acrescentou que uma análise da delação mostrará que, “nas doações feitas ao PSB Nacional, não houve negociação nem promessa de ato de ofício, o que significa que jamais houve qualquer compromisso de troca de favores ou benefícios. “Dessa forma, é completamente descabido o uso de expressões como ‘propina’ ou ‘pagamento’.”
Em nota, a assessoria do prefeito Geraldo Júlio afirmou que ele confirmou o encontro com o executivo Ricardo Saud, da JBS. No entanto, de acordo com a assessoria, o “encontro teve como único objetivo solicitar doações legais para a campanha dele e a do governador Paulo Câmara e em nenhum momento houve pedido de doação ilegal”.