Por Elisa Robson*
O que é a Odebrecht? O que sonhava seu fundador? E como se transformou em uma vergonha internacional para os brasileiros?
Quando o jovem engenheiro alemão Emil Odebrecht chegou ao Brasil, em 1856, talvez não imaginasse o peso que seu sobrenome teria neste país. Seguindo o fluxo da imigração germânica, ele se fixou no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, e teve 15 filhos com Bertha Bichels.
Um de seus netos, Emílio Odebrecht se enveredaria pelo setor de Construção Civil e comprovaria a veia empreendedora da família. A partir de 1945, seu filho Norberto, também engenheiro, começou a realizar obras em Salvador e no interior da Bahia e deu origem à Organização Odebrecht.
Entre as suas primeiras histórias de sucesso está a construção do Edifício Belo Horizonte, na década de 40. Os Odebrecht concluíram a obra em sete meses, quando a média na época era de três anos. Planejamento e produtividade pareciam ser os grandes alvos da construtora. Não o enriquecimento ilícito.
Em 1953, a empresa iniciou uma de suas mais importantes parcerias. Foi realizada a primeira obra para a Petrobras: o acampamento do projeto Oleoduto Catu-Candeias, na Bahia, para o transporte do óleo extraído no novo campo de Catu da Refinaria de Mataripe.
Provavelmente, naquela época, era impossível imaginar que a reputação da Odebrecht estaria jogada no mais sujo lamaçal no longínquo ano de 2016. Que estaria envolvida em crimes de corrupção tão extensos que quase levou sozinha o país inteiro à bancarrota. Além de operar criminosamente em âmbito internacional.
Hoje, após o acordo de leniência (delação premiada de empresas), as autoridades tornaram pública a confissão da Odebrecht: a empresa pagou aproximadamente US$ 788 milhões em propina, em 12 países. Com o pagamento, a empreiteira recebeu benefícios de US$ 3,336 bilhões, em contratos de obras públicas.
As cifras astronômicas são praticamente impossíveis de serem concebidas por qualquer cidadão. Porém, mais impressionante ainda foi a manutenção dessa estrutura “secreta” que operou para desembolsar propina para políticos do mundo afora. Não apenas no Brasil, como se imaginava. Angola, Argentina, Colômbia, República Dominicana, Equador, Guatemala, México, Moçambique, Panamá, Peru e Venezuela.
As mentes brilhantes na linhagem da família Odebrecht não conseguiriam supor que um dia, outro jovem engenheiro, Marcelo Odebrecht, assumiria o comando da empresa com ideias, não apenas gananciosas, mas comprometidas com o pior da classe política do país.
Na liderança do conglomerado de construção e engenharia, Marcelo levou a empresa a lugares onde poucos se arriscariam, como Líbia e Cuba. No Brasil, ele também fez algo que poucos empresários fariam: defendeu publicamente presidentes de esquerda e suas políticas. Sua ascensão coincidiu com o segundo mandato do ex-presidente Lula. E, por fim, aos 46 anos, se encontra na mais improvável das circunstâncias para uma pessoa de tal prestígio: em custódia da polícia.
No website da organização, um melancólico texto tenta explicar o sentimento da empresa nos últimos meses:
“Conforme já declarado anteriormente, a Odebrecht se arrepende profundamente da sua participação nas condutas que levaram a este acordo e pede desculpas por violar os seus próprios princípios de honestidade e ética.”
Se Emil pudesse ver onde Marcelo está hoje, certamente sentiria vergonha como todos nós. Mas também chegaria a uma conclusão mais profunda e pesarosa, como a do clérigo Charles Caleb Colton:
“A ambição comete, em relação ao poder, o mesmo erro que a ganância em relação à riqueza: começa a acumulá-la como meio de felicidade, e acaba a acumulá-la como objetivo.”
*Elisa Robson é jornalista, administradora da página República de Curitiba e do site Movimento Mãos Limpas
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