Aécio é escolhido candidato do PSDB à Presidência com exaltação a FH e a Tancredo

Agência O Globo
Aécio Neves chegou à convenção do PSDB na companhia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de lideranças tucanas
Aécio Neves chegou à convenção do PSDB na companhia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de lideranças tucanas
Ao final de um ano de intensas articulações para vencer a resistência da ala tucana paulista à sua candidatura, o mineiro Aécio Neves foi oficializado ontem como o candidato a presidente da República na convenção nacional do partido por 99% dos 471 delegados — houve apenas um voto nulo e três brancos. Numa superprodução em São Paulo que misturou momentos mais emocionais, resgate do governo Fernando Henrique Cardoso e muitas críticas à gestão do PT e da presidente Dilma Rousseff, Aécio, o ex-governador José Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, capricharam nos gestos para mostrar que, em nome da disputa e do projeto de derrotar o PT, as feridas antigas estão curadas entre “serristas“ e “aecistas“, tendo Fernando Henrique como avalista dessa união. Muito aplaudido e prestigiado, coube ao próprio Serra dizer que é hora de todos se unirem para arregaçar as mangas e enfrentar a batalha, que será dura.
Em um dos pronunciamentos mais aguardados, Fernando Henrique afirmou que o país está cansado de “empulhação” e fez um chamamento ao PSDB para que se aproxime do povo.
— As urnas clamam, querem mudança. Elas cansaram de empulhação, corrupção, mentira e distanciamento entre o governo e o povo. Nós temos que ouvir o povo, estar mais próximos do povo. Ganhar a confiança do povo. A caminhada do Aécio será essa — afirmou o tucano, que usou palavras fortes para se referir aos integrantes do PT, como “ladrões” e “farsantes”.
Não foi por acaso que Aécio chegou à festa tucana de mãos dadas com o ex-presidente. O senador está convencido de que não repetirá o erro de campanhas passadas do PSDB, que esconderam FH e a gestão dele na Presidência. Numa volta ao passado, Aécio recordou a trajetória política do avô Tancredo Neves e do ex-presidente Juscelino Kubitschek, para referir-se à própria candidatura como o “reencontro com a decência”:
— Se o presidente Juscelino permitiu 60 anos atrás o reencontro do Brasil com o desenvolvimento e a modernidade, coube a Tancredo, 30 anos depois, permitir que a gente se reencontrasse com a democracia e a liberdade. Outros 30 anos se passaram, e vamos conduzir o Brasil ao reencontro com a decência.
Aécio fala em ‘Ventania por mudanças’
Pouco antes, Aécio, ao se dizer confiante e preparado para fazer as mudanças de que o país precisa, afirmara acreditar que as urnas vão “varrer” o PT do governo federal.
— A cada dia que passa, em cada região por onde ando, percebo não só uma brisa, mas uma ventania por mudanças. Um tsunami que vai varrer do governo federal aqueles que lá não têm se mostrado dignos e capazes de atender às demandas da população brasileira — disse.
Aécio, Serra e Alckmin fizeram questão de explicitar e mostrar a afinação entre eles. Aécio elogiou as conquistas de Serra no Ministério da Saúde. O paulista, por sua vez, fez uma defesa clara em seu discurso da unidade partidária em torno da candidatura do senador.
— Nós não podemos declinar da responsabilidade de comparecer unidos para esta batalha, que, acreditem, não é contra ninguém, mas é a favor do país — afirmou Serra.
Quando o ex-governador terminou seu pronunciamento, Aécio se levantou e foi ao seu encontro para lhe dar um abraço e posar para fotos. Outro sinal de que Serra está integrado e terá papel importante na campanha é que Aécio participou, na véspera da convenção, de um jantar na casa do “serrista“ Andrea Matarazzo. Na reunião, traçaram a estratégia dos próximos passos da campanha e, na mesma noite, a foto do jantar foi postada por Aécio nas redes sociais.
No jantar, Serra deu sugestões e fez uma análise sobre a equação que diz ser fundamental para derrotar o governo petista e, considera, precisa ser explorada: a perda do poder aquisitivo da população com a volta da inflação. Presente ao jantar, o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), disse que Serra estava bem à vontade. Ao final da convenção, ele afirmou que sua decisão sobre candidatura à Câmara ou ao Senado dependerá das alianças de Alckmin.
O próximo passo da campanha de Aécio é definir o seu vice, até o dia 30 de junho. Tudo indica que vencerá mesmo a dobradinha café com leite, Aécio e o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
Como principal articulador da candidatura de Aécio, Fernando Henrique deu a linha do discurso que deverá ser repetido à exaustão pela campanha tucana. Ele começou com um tema que já custou muito caro ao PSDB em eleições passadas: privatizações.
— O povo quer respeito e consideração. O povo cansou de comiseração. Quantas vezes ouvi que eu queria privatizar a Petrobras. Mentira. Eles sabem que é mentira. Nós queríamos transformar a Petrobras de uma repartição pública numa empresa dos brasileiros. O que eles fizeram? Nós queremos de novo que as estatais sejam em benefício do povo.
Depois, disse que Aécio é “um líder jovem” para sentir “de perto o pulsar das ruas e se dedicar de corpo e alma ao povo”.
Antecipando-se aos ataques do adversário, o candidato tucano dedicou parte do discurso a defender o legado do PSDB na área social. Na economia, o tema preferencial foi a ameaça de retorno da inflação.
— Quem foi contra o Plano Real é quem hoje permite a volta da inflação — disse.
Para representar os partidos aliados de Aécio na convenção, discursaram o deputado Paulo Pereira da Silva (SD) e o senador José Agripino Maia (DEM). Paulinho acusou o governo do PT de “roubar desde lá de cima até embaixo”. E afirmou que a presidente Dilma Rousseff teria sido vaiada durante a abertura da Copa em São Paulo, na última quinta-feira, por ter mentido em pronunciamento de TV exibido na véspera do jogo.
O senador José Agripino lembrou ter conhecido Aécio Neves quando ele ainda era secretário do avô Tancredo e disse que sentia na convenção “cheiro de vitória”:
— Aécio tem a coragem politica e cívica para fazer o que precisa ser feito. Se fez em Minas, vai fazer pelo Brasil.
Família esteve presente
Aécio levou para o ato de oficialização de sua candidatura a filha Gabriela Neves e a mãe, Inês Maria, filha de Tancredo. A mulher do tucano, Letícia Weber, está hospitalizada em clínica do Rio de Janeiro, onde deu à luz filhos gêmeos do senador, que nasceram prematuramente.
Ao lembrar da família, ainda no início de seu pronunciamento, Aécio se emocionou.
— Um beijo à distância, minha esposa e meus filhos, recém-nascidos, que se recuperam bem, graças a Deus, e haverão de crescer num país mais justo, mais solidário e mais generoso — disse Aécio, com a voz embargada e os olhos cheios de lágrimas mostrados pelo telão.

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